A política
desportiva do Sporting para a época que se avizinha tem um nome e chama-se
Jorge Jesus.
Cansado de promessas de redenção de um passado de glória alicerçadas na contenção
de despesas e no seu centro de formação, o presidente leonino deu a mão à
palmatória e decidiu entregar a quem sabe a sua política desportiva para o
futebol.
A decisão de
Bruno de Carvalho foi um vistoso golpe de mãos a pedir meças aos velhos tempos
de Pinto da Costa. Numa penada, rompe com um passado recente de modéstas
virtudes, trazendo para o clube o segundo melhor técnico português da
actualidade com a confiança cega na verdadeira essência do papel bíblico do
profeta da redenção nascido para os lados da Amadora.
Em matéria de
apóstolos, as notícias dão conta de verdades contraditórias. Como tem sido
apanágio do futebol português, a mentira de ontem é uma verdade de hoje. “Vocês
sabem bem do que estou a falar”.
O novo timoneiro
dos leões, escolheu para cúmplice da sua visão periférica, dois figurões que,
por razões distintas merecem destaque na controvérsia e maldizer próprios do metier sportinguista. Octávio Machado,
aquele que tudo sabe mas nada diz, frontal como uma manhã de nevoeiro, disposto
ao contra-fogo com a experiência acumulada no meio da piromania e Manuel
Fernandes, recuperado para as vicissitudes leoninas qual Lázaro, após ter sido
corrido de Alvalade com o atestado de incompetência de pior funcionário do
clube. Ele há coisas fantásticas não há?
Com a entrega do
poder efectivo ao treinador tri campeão, o Sporting rompe de vez com o
paradigma da formação em detrimento de uma fuga para a frente. O tempo o dirá
se esta terá sido a melhor opção. Jesus passa a dispor de liberdade total na
definição do caminho a seguir, algo de que nunca dispôs no consulado vermelho.
Este saberá melhor do que ninguém o que é preciso para ser bem-sucedido de leão
ao peito. Resta saber se os cofres leoninos estarão cheios para satisfazer os
apetites do seu técnico.
Não restam
dúvidas quanto ao nascimento de um novo Sporting, o tempo dirá se se tratará de
um Sporting novo. Com o Benfica no início de um novo ciclo de retracção
orçamental e a versão acastanhada de um FC Porto determinado em recuperar
velhos hábitos (...!), Jorge Jesus sabe bem da responsabilidade que assume
perante a história dos seus novos seguidores. Como o próprio enfatiza no seu
tom peculiar, a estrutura são vitórias, sendo certo que, na sua sagacidade, o
mago da Reboleira, saberá como ninguém que os obstáculos mais difíceis ao seu
sucesso gravitam na esfera próxima do clube, cuja política se confundirá, para
o bem ou para o mal, com a sua própria identidade. A eloquência cega e um tanto
destrambelhada da direcção verde e branca à mistura com a habitual horda de
agitadores no seio da corte leonina, torna o terreno movediço para um treinador
obcecado pela glória. “Espelho meu, haverá alguém melhor do que eu?”.
A ver vamos se o
criador se substitui à estrutura e se o casamento recente não desvalará em
despedimento por justa causa. Pelo sim pelo não, o melhor é Jesus deixar de levar
pastilhas para os jogos.