quinta-feira, 28 de maio de 2015

A Poeira dos dias

Para cumprir as responsabilidades assumidas perante os seus credores, os principais clubes portugueses têm de garantir receitas com transferências de jogadores, bem acima dos €50M por época. O FC Porto na última década e o Benfica nos últimos anos, tem sabido rentabilizar o forte investimento efectuado nos respectivos plantéis, garantindo a venda dos seus activos por valores record.

Embora a época ainda não esteja oficialmente encerrada, o êxodo anual já começou e a procissão ainda está no adro, se bem que com a dilação cada vez maior dos períodos de transferências, o andor nunca chegue verdadeiramente ao altar. “É a economia global, estúpido!” O FC Porto foi o primeiro a prometer o dote de um dos seus tesouros, numa fase ainda prematura das hostilidades, trocando por miúdos (milhões) a declaração de amor do Real Madrid por Danilo. Para Jackson estará á muito reservada a possibilidade de partida para destinos mais promissores e Alex Sandro desperta a cobiça dos tubarões europeus o que pronuncia dinheiro em caixa para os cofres do Dragão.

Também o Benfica, em especial no consulado de Jorge Jesus, tem habituado a sua tesouraria a jackpots regulares estando habituado a ver partir as estrelas mais cintilantes do seu plantel. Com a oficina ainda aberta aguarda-se guia de marcha para Cancelo e Gaitán, mas a feira ainda mal assentou arraiais e a extracção do minério da Luz promete novos episódios nos próximos tempos.

Esta tendência para os grandes negócios por parte dos dois protagonistas da nossa Liga resulta do forte investimento levado a cabo por estes, em parceria com as entidades bancárias e os chamados Fundos com os quais se tornou possível adquirir futebolistas de potencial elevado, devidamente rentabilizados em equipas competitivas, cujo retorno financeiro tem sido uma certeza por parte dos verdadeiros donos do dinheiro.

Porém, a crise do sistema bancário, aliada ao fim dos Fundos de Investimento decretada recentemente pela FIFA, pronunciam ventos de mudança no que toca á principal fonte de investimento dos clubes de segunda linha do futebol europeu, nos quais se enquadram os “grandes” do futebol português.

Chegados ao tempo das vacas magras, em breve se perceberá quem está mais preparado para se adaptar às circunstâncias. Com a debandada dos seus activos mais lucrativos e sem (tanto) dinheiro para vícios, a tendência será que as transferências milionárias sejam cada vez mais raras, a não ser que Benfica e FC Porto consigam descobrir novos Gaitáns, Danilos e Jacksons, a preço de custo nos mercados já muito saturados da América do Sul e Central (difícil). Desta forma não restará às respectivas S.A.D., outro caminho senão o de potenciar os jogadores da formação, sabendo porem que, tal como na agricultura, existem colheitas melhores do que outras com consequências nos lucros averbados.

O importante será garantir o escoamento de “produtos” com certificados de qualidade. Neste capítulo, diga-se, o Benfica tem sido exemplar; embora com méritos discutíveis no horizonte do plantel principal; apontando o caminho a seguir, de forma a rentabilizar os elevados investimentos efectuados nos seus centros de formação e a garantir a própria sustentabilidade dos mesmos.

Quanto a reforços e em tempo de vacas magras, o mercado interno parece ser uma tendência natural. Quem não tem cão caça com gato por isso, de bolsos meio vazios (ou meio cheios, para não ser tão pessimista) contratar intramuros garante apostas de baixo risco em futebolistas plenamente adaptados ao nosso futebol e de competência média interessante para satisfazer as novas exigências.

A tendência da Liga portuguesa será, portanto, para ver diminuído o fosso entre ricos e pobres por via de um abaixamento qualitativo dos seus protagonistas. O Sporting á muito despertou para a realidade. FC Porto e Benfica só agora começam a abrir os olhos. Bem-vindos ao Mundo real.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Bilal o puto maravilha do Twente



Bilal é nome de Laboratório farmacêutico mas pode ser em breve refrão para um craque. A imprensa divulgou por estes dias o interesse do Benfica no concurso deste jovem extremo do Twente. a confirmar-se a cobiça de United, Bayern ou Dortmund, o melhor apreciá-lo em video...

Rei morto rei posto

Especulemos…

O despedimento de Carlo Ancelotti do Real Madrid é a mais recente excentricidade de Florentino Pérez que, enquanto presidente dos blancos, habituou os adeptos a contratações estratosféricas e a despedimentos polémicos. Depois de uma temporada em branco, o colosso madrileno não se compadece com a história recente dos seus protagonistas.

Em apenas um ano o italiano desceu do céu ao inferno sem parar no purgatório, que é como quem diz, de bestial a besta, no imaginário próprio de um clube sem projecto de fundo para o futebol, onde a fama é efémera e o dinheiro não passa de um pormenor irrelevante. Dinheiro que; já agora; não será dos problemas mais importantes no futuro imediato do antigo internacional italiano, uma vez que o seu subsídio de desemprego promete ser ligeiramente mais elevado em relação à generalidade dos desempregados (!) 

Após ter conquistado a décima (Liga dos Campeões) para o Real; a segunda do seu currículo enquanto treinador; Ancelotti, concluiu a presente temporada sem conquistas e, não obstante o seu propalado espírito bonacheirão e a simpatia grangeada entre os jogadores, não resistiu a profusão de polémicas interinas no decurso da presente época, como a inveja surda de Bale relativamente a Cristiano Ronaldo ou as dúvidas de alguma (vasta) crítica sobre a iconoclastia vigente no balneário, com Casillas à cabeça. Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.

Rei morto, rei posto. Com a eminente contratação de Rafa Benitez para novel treinador do vice-campeão espanhol, daqui a um ano voltará a dança das cadeiras na Casa Blanca

Mas voltemos a Ancelotti e á especulação que nos trouxe aqui. Agora que O Manchester City também deve estar para dispensar o seu treinador, não seria de estranhar que os citizens aproveitassem o balanço e avançassem para o ex-técnico do Real, garantindo um treinador á altura para a sua constelação de estrelas.


Já agora e porque não á fumo sem fogo, os mais recentes boatos provenientes da capital espanhola apontam para um descontentamento crescente de Pérez, relativamente a CR7, que a juntar á relação morna deste com a afición madrilista, aponta para uma eventual saída do jogador português. Para além disso, o craque luso veio a terreiro esta semana, em defesa de Ancelotti, divulgando uma foto nas redes sociais na qual presta o seu tributo ao timoneiro italiano. 

A Haver lógica nas minudências do futebol, bastaria juntar as pontas soltas para encontra-mos um final feliz para toda esta história. Estará eminente a sociedade Ancelotti & Ronaldo no outro clube de Manchester? A ver vamos.



segunda-feira, 25 de maio de 2015

A mão que encobre o lodo



O campeonato acabou e, como quase sempre, do lado dos vencedores e dos vencidos nunca nada é como foi, por ter sido obra de um velho sistema de costas largas atrás do qual se encobrem vícios e viciosas maneiras de encobrir o sol com uma peneira. Enfim, uma lusitana paixão pela inveja e pelo mal dizer a que a falta de cálcio não será alheia.
O Benfica sagrou-se bicampeão por culpa de um treinador sagaz que cedo percebeu que a matéria-prima ao seu dispor não dava garantias de enfrentar a contenda com a vertigem atacante que tem marcado o seu consulado. Assim, atirou às malvas a nota artística e optou por um registo eminentemente racional, aqui e ali pontuado por exibições superlativas mas que no global roçaram o quanto baste para salvaguardar o resultadismo. Paineleiros e demais especialistas do futebol indígena apressaram-se a encomendar as exéquias dos encarnados face ao êxodo de parte da sua espinha dorsal. Contudo, a realidade viria a mostrar a quão prematura extrema-unção e lá tiveram de meter a viola no saco.
Começando pela baliza, nunca restaram grandes dúvidas quanto á mais-valia que representava um guarda-redes a meio caminho entre a experiência e a veterania. Sobre Júlio César pairava a sombra de um; tão grande quanto esquivo; Oblak que realizara uma época notável como número 1 da baliza lampiã e as feridas mal saradas da tareia com que o Brasil fora brindado nas meias-finais do Mundial. Com o tempo e após muito se ter verberado sobre lesões crónicas, o internacional canarinho recuperou a sua aura de campeão e os pergaminhos de excelência do passado.


No defeso o Benfica perdera Garay, insubstituível em função da classe muito acima da média que passeara pelos relvados com o emblema da águia e esforçou-se para garantir no mercado jogadores de valor aproximado. Por opção técnica, César e Lisandro Lopez nunca viriam a convencer e foi em Jardel, que o treinador veio a depositar total confiança para formar dupla com o omnipresente Luisão. O patinho feio transformou-se num cisne, garantindo exibições seguras que surpreenderam os observadores e satisfizeram adeptos.   
Samaris passou metade da época a adaptar-se ao papel de pivôt defensivo e a outra metade a provar á saciedade o jeito de Jesus para transformar o joio em trigo. Neste momento, sem que que sobrem garantias para a sua permanência, o grego apresenta-se como indiscutível para o ataque á nova época e o resto são “pinets”.
Com a debandada de Enzo Perez, a sangria benfiquista viria a conhecer novo capítulo e Jesus foi novamente forçado a recolher ao seu laboratório de alquimista para trazer a público um novo box-to-box. Mais uma vez, os viscerais desconfiados da praça anteciparam a debacle eminente. Contudo, como num toque de mágica, os encarnados conseguiram manter o equilíbrio estrutural, inventando Pizzi para uma função que se julgava órfã. Talisca, perdera o fulgor inicial e nunca chegou a convencer a exigências da posição 8 no esquema de JJ e Ruben Amorim passou a época a recuperar de uma prolongada lesão. Embora sem deslumbrar, o transmontano satisfez as exigências, demonstrando apreciável capacidade de adaptação ao lugar disfarçando o deficit de agressividade defensiva através de uma técnica acima da média e boa leitura de jogo, acabando a época com nota positiva sem no entanto afastar de parte a necessidade do clube procurar no mercado uma solução mais eficaz.
No ataque, fazendo dupla com um Lima de pedra e cal nas preferências de Jorge Jesus, Talisca “Mc Queen” debutou com estrondo, martelando as redes com uma sofreguidão fora do comum para um jogador desconhecido no mercado europeu e dobrou o primeiro terço do campeonato com 8 golos na conta pessoal. A ânsia pela criação de novos heróis foi tal que depressa se dispuseram pretendentes ao dote, com o Chelsea à cabeça, através do canto de sereia do Happy One. O tempo encarregou-se de deitar água na fervura e a montanha pariu um rato com o brasileiro a eclipsar-se pouco a pouco. Para memória futura fica a técnica individual acima da média, a velocidade e o forte remate do esquerdino que, com tempo para umas tão reclamadas férias não terá na sua segunda época desculpas para oscilações exibicionais tão latentes. A rever.
Para o eclipse de Talisca contribuiu em grande parte o aparecimento de Jonas. O avançado, proveniente do Valência chegou com o comboio em andamento mas depressa provou tratar-se de uma mais-valia, demonstrando classe e capacidade finalizadora, empurrando o seu conterrâneo para uma tão esforçada quanto inconsequente adaptação ao meio campo ou uma alternativa nunca efectiva á posição de extremo. Com efeito, Jonas, baixo e franzino faz lembrar um certo João Vieira Pinto, na morfologia e na maneira como desenha o seu papel em campo.
Posto isto, o renovado campeão teve o mérito de ser uma verdadeira equipa, corporizando na plenitude o lema que exibe no brasão, sem estrelas maiores nem desculpas menores, percebendo cedo que os campeonatos se ganham na singularidade de premissas comuns, percebendo os sintomas de dias maus e adaptando-se às vicissitudes do jogo, com coragem, inteligência e, já agora, sorte.

Há quem fale em colo, em manto, há calimeros e outros traumas. Para quem gosta de decifrar os sinais do Tempo, não deixa de ser sintomático o discurso repassado e redutor sobre conspirações e cabalas. O primeiro passo para o declínio é a cegueira daqueles que se acham acima de qualquer incompetência, como os discursos de governos autistas que nos conduziram ao lodo.  O melhor de dois mundos para os vencedores…



segunda-feira, 18 de maio de 2015

Estrelas de papel pardo

Antigamente a canalha acordava cedo para não chegar atrasada à escola. Todos os dias eram dias para um joguinho de futebol no remediado campo de terra batida em frente ao liceu.
Os primeiros a chegar faziam as equipas. Depois chegavam outros e mais outros, muitos. Todos contra todos, desde que houvesse bola, era vê-los correr numa vertigem maior do que a sua compreensão. Suavam-se as estopinhas em autênticas finais sem lugar para complacência e quando o dono do tesouro maior não aparecia, a malta desenrascava-se ao futebol humano, no qual o corpo se substituía ao esférico no seu destino de fura-redes. Quando soava o toque, dispersava-se para a sala de aula, sacudindo da roupa o excesso de pó, exibindo as escaras dos joelhos como troféus de uma luta benigna e mágica.
No tempo do futebol puro o conhecimento era empírico, dos pés à cabeça, de calças rotas e ténis de boca aberta, sem o cheiro a novo das réplicas perfeitas das escolas de futebol nem dos sonhos formatados em laboratórios franchisados que cresceram como ervas daninhas pelos centros urbanos.
O menino cresceu, fez-se homem e descobriu na teimosia empírica que o futebol nasceu para todos mas nem todos nasceram para ele. Seguiu o seu caminho à sombra do jogo, comprando um lugar do lado de lá do tapete verde, aos brados, por vezes em lágrimas, por entre a turba de outros ex-futuros craques, sonhando com a ressurreição através dos olhos da descendência.
Em menos de nada, está o menino inscrito numa escola de futebol, fardado a rigor e com ar de craque em miniatura. Há lugar para todos e a nenhum é negada a esperança de altos voos, mesmo que ainda não saiba correr, que seja coxo de uma perna ou das duas, não veja, não ouça ou que confunda futebol com Lego. Viva a democracia. Desde que pague, não se impede ninguém de acreditar em Bolas de Ouro ou em Ligas dos Campeões.
As escolas de futebol são um sinal dos tempos, destes tempos de suspeita racionalidade em que entidades mascaradas de mercados, substituíram o papel dos ditadores no despotismo das sociedades modernas. Tudo tem um preço, tudo se resume á esfera numerológica que a lógica, essa, é uma batata.
O futebol como fenómeno maior de aglutinação de afetos tornou-se de á muito um espaço privilegiado para os mercados se alimentarem dos milhões que caem do céu provindo de lugares exóticos, como quem compra estrelas com amendoins. Embora sem movimentarem milhões, as escolinhas tornaram-se com o dealbar do Século num fenómeno empresarial que aproveitou as mais imaginosas obsessões futebolísticas dos papás.
Esquecem-se que o talento nasce de geração espontânea. Cristianos Ronaldos não se compram no supermercado nem em lojas de conveniência embora seja de toda a conveniência fazer render o peixe enquanto a maré está cheia.
Na verdade, criar condições para a aprendizagem e desenvolvimento da prática do futebol até pode ser benéfico desde que não se perca de vista a pureza lúdica do jogo selvagem. Aproveitar o talento puro e optimizar as valências juvenis devia ser o foco das escolas de futebol sem descurar o fundamental amadurecimento humano do individuo enquanto projecto de ser Social. Tal no entanto não parece ser condição primeira nos projectos empresariais destas escolas.
Uma observação atenta do quotidiano destes espaços permite aferir que a metodologia empregue se destina ao ensino dos fundamentos básicos do jogo a partir de uma lógica de competitividade que permeia o individuo e não o desenvolvimento das suas competências numa lógica colectiva.
O mais chocante é ver que o núcleo fundamental para o crescimento equilibrado; a família; é o principal elemento desestabilizador do carácter da criança. Basta assistir a um qualquer encontro de escolinhas e assistir ao espectáculo triste do incitamento à agressividade muito para além da normalidade entre formadores de gente, ao ponto de serem, tantas vezes, as próprias crianças a educar os pais para o fair play.
Tão ideal quanto utópico seria adaptar o futebol de formação à formação de pai, fazendo depender o sucesso daquele aos méritos deste.
Da (de)formação de base se justificam os excessos, a violência que tanto condenamos e que é sempre culpa dos outros, nos estádios e fora deles.
Não existem craques sem Homens. Formar para o jogo vai muito para além do passe e o remate, da defesa ou o ataque. Ensinar futebol é também ensinar cidadania, porque a vida é apenas um jogo.


quinta-feira, 14 de maio de 2015

A face e o espelho


Que o Bayern vs Barcelona da edição 2014/15 da Champions League fez lembrar uma espécie de autofagia em que criador é subtraído pela sua própria consequência, lá isso fez.

Que o Bayern vs Barcelona fez lembrar uma alegoria poética sobre esplendor e queda, lá isso fez. 

Onde acaba Guardiola e começa Messi? E o Bayern? Que futuro para o tiki taka à alemã? Existirá tiki taka ou tudo não passará da ilusória mistificação de um deus argentino, versão Século XXI?

Ao longo da história do futebol sempre existiram treinadores vencedores. Senhores da estratégia e da exaltação, exímios na condução de homens e na arte de transformar sonhos em matéria. Mas de entre estes, alguns se destacaram dos demais pelo dom da reinvenção, transformando a bola num objecto artístico como outro qualquer. 

Pondo de parte a horrível personificação do estilo, a que se chamou catenaccio, pela mão de Herrera, para a história ficará para sempre o futebol total de Rinus Michels, que transformou a Holanda numa laranja mecânica, na década de 70 do século passado. A plena essência da liberdade criativa ao serviço de uma vertigem atacante personificada por intérpretes de elevada nota artística (!), capazes de transformar o futebol em algo mais do que um simples jogo. 

Por falar em arte, que dizer do futebol sambado do Brasil de 82, em que uma bateria de solistas transformou o Mundial numa obra prima do pontapé na bola? Mas este não era um sistema, antes uma super banda em que cada um tocava para si mas sem notas soltas, numa afinação quase perfeita.

O futebol arte, transformou o futebol no maior espectáculo do Mundo, ao ponto de Deus fazer questão de descer á Terra e iludir a lógica colectiva do jogo pelos pés (e já agora, pela mão) de Dieguito, com expoente máximo no México 86, quando fez questão de dar sentido estético a uma frase batida. Em campo era ele e mais dez. Mas isso não era futebol, era Maradona.

Em pleno Século XXI, quis o destino num dos seus sortilégios que na Barcelona de Gaudi, nascesse uma nova tendência artística que haveria de decalcar-se no tempo como uma suprema derivação plástica. Sim ainda falo de futebol. Sim falo do Barcelona de Guardiola, um jovem treinador sagaz para quem a vitória por si mesma não pode sobreviver sem o prazer estético.

Aproveitando os filhos pródigos da sua cantera, Dom Pepe impôs o prazer quase provocatório do passe curto, jogando ao esconde-esconde como um bando de crianças despreocupadas numa tarde de Verão.

Exercendo uma pressão alta de elevada intensidade, este exercício estilístico depende sobremaneira de uma obsessiva procura pela bola e respectiva reacção à sua perda, da capacidade sublime de tratar o objecto como um adorno e de a esconder do adversário num envolvimento colectivo de todos os intervenientes. Uma reinvenção do futebol total com tiques de malvadez e um certo gosto pelo supérfluo. O Barcelona de Guardiola foi o melhor sistema defensivo (!) que conheci. O casamento perfeito de uma bipolaridade futebolística no qual e ao mesmo tempo, dois planos distintos se sobrepõem harmoniosamente.

Quando assumiu o comando do gigante bávaro, muitos se questionaram se este sistema teria cabimento numa realidade antagónica ao diletantismo blaugrana. Disposto em afrontar a lógica implantada, Guardiola deitou mãos á obra e transformou o Bayern numa personificação da sua própria criação. Deitando mão de um punhado de grandes jogadores e aproveitando os que já lá estavam, o técnico esteve perto de provar à saciedade que esta maneira de encarar o jogo podia sobreviver á sua origem e suplantar as fronteiras da sua Catalunha natal. É certo que o campeão alemão chega a provocar temor, tão depressa quanto se deixa enlear na letargia, que outras vezes, menos é certo, lhe provocam arrepios e problemas de identidade.


Dá ideia que faltará a este Bayern um pequeno pormenor para ser sublime. Messi. Já agora também um central de inegável categoria. Se relativamente a este ultimo tal dependerá da vontade, no que diz respeito ao primeiro a coisa já depende de toda uma roda do tempo.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Caniches, patetas e outros disparates

Era uma vez um caniche que ladrava muito  e andava sempre aos saltinhos para dar nas vistas. Este caniche tinha pedrigree mas vivia amargurado com a sua pequenez, culpando tudo e todos pela sua frustrante incapacidade de ser o que não é. Com o tempo foi perdendo a lucidez  e só ás portas da morte percebeu que o tempo tinha passado sem que do seu engenho se fizesse noticia, para alem do seu latir nervoso.

Paulo de Andrade não é um caniche mas bem podia ser. Naquele seu jeito tão leonino (!?) de ser vítima de si mesmo, insiste nesta estranha autofagia. Esta semana, resolveu verbalizar uns quantos latidos de circunstância sobre uma velha cassete de fita gasta guardada num sotão de telheiras, entre macaquinhos com complexo de perseguição, o que até vem a propósito em período de definição da Liga, coisa em que o Sporting não tem sido visto nos últimos anos. Vai daí, resolveu aproveitar o tempo de antena que lhe foi dado na CMTV para com a naturalidade de um lunático, culpar a arbitragem por mais uma época a ver passar os comboios. Francamente, se não fosse o respeito pelo mundo animal, mandava este caniche para a Coreia... (http://playwire.com/)

A propósito do mundo animal, quem nunca ouviu falar da história do ovo e da galinha, aquela que antes de o ser já o era? Na habitual conferência de imprensa de antevisão ao jogo com o Benfica, José Mota aproveitou para contar a sua versão deste conto, dissertando com o sentido de humor possível, sobre a sua estranheza e do resto do Mundo pela nomeação de Capela para este jogo. É verdade que Capela faz parte daquele leque de árbitros simplesmente incompetentes que sujam a arbitragem nacional, mas daí a tomar como suas as dores alheias, vai para lá do altruísmo militante. Esta moda da crítica futurologista diz bem da personalidade rasteira de uma certa espécie de agentes do futebol português. Em matéria teatral, Mota terá muito mais a aprender se ler o Auto da Barca do Inferno ou Auto da Visitação para saber a respeitar os tempos de um espectáculo...


Por falar em ridículo, Em entrevista ao SOL, Jorge Jesus entendeu qualificar Lopetegui de "corajoso", acrescentando que o basco havia subido na sua cotação. depois do episódio do clássico de domingo. Por uma questão de piedosa bonomia, o mister da Reboleira, podia aproveitar para ficar calado e a atitude acriançada do treinador dos dragões bastaria para falar pelo seu autor. Mas não, como quem tira com uma mão e tira com a outra, JJ, acrescentou que Lopetegui "é um lider como homem... a qualidade como treinador é outra coisa". Lá dizia o outro, não havia necessidade (http://sol.pt/noticia/389173).



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