Que o Bayern vs Barcelona da edição 2014/15 da
Champions League fez lembrar uma espécie de autofagia em que criador é subtraído
pela sua própria consequência, lá isso fez.
Que o Bayern vs Barcelona fez lembrar uma alegoria
poética sobre esplendor e queda, lá isso fez.
Por falar em arte, que dizer do futebol sambado do Brasil de 82, em que uma bateria de solistas transformou o Mundial numa obra prima do pontapé na bola? Mas este não era um sistema, antes uma super banda em que cada um tocava para si mas sem notas soltas, numa afinação quase perfeita.
O futebol arte, transformou o futebol no maior espectáculo do Mundo, ao ponto de Deus fazer questão de descer á Terra e iludir a lógica colectiva do jogo pelos pés (e já agora, pela mão) de Dieguito, com expoente máximo no México 86, quando fez questão de dar sentido estético a uma frase batida. Em campo era ele e mais dez. Mas isso não era futebol, era Maradona.
Em pleno Século XXI, quis o destino num dos seus sortilégios que na Barcelona de Gaudi, nascesse uma nova tendência artística que haveria de decalcar-se no tempo como uma suprema derivação plástica. Sim ainda falo de futebol. Sim falo do Barcelona de Guardiola, um jovem treinador sagaz para quem a vitória por si mesma não pode sobreviver sem o prazer estético.
Aproveitando os filhos pródigos da sua cantera, Dom
Pepe impôs o prazer quase provocatório do passe curto, jogando ao
esconde-esconde como um bando de crianças despreocupadas numa tarde de Verão.
Exercendo uma pressão alta de elevada intensidade,
este exercício estilístico depende sobremaneira de uma obsessiva procura pela
bola e respectiva reacção à sua perda, da capacidade sublime de tratar o
objecto como um adorno e de a esconder do adversário num envolvimento colectivo
de todos os intervenientes. Uma reinvenção do futebol total com tiques de
malvadez e um certo gosto pelo supérfluo. O Barcelona de Guardiola foi o melhor
sistema defensivo (!) que conheci. O casamento perfeito de uma bipolaridade futebolística
no qual e ao mesmo tempo, dois planos distintos se sobrepõem harmoniosamente.
Quando assumiu o comando do gigante bávaro, muitos se questionaram se este sistema teria cabimento numa realidade antagónica ao diletantismo blaugrana. Disposto em afrontar a lógica implantada, Guardiola deitou mãos á obra e transformou o Bayern numa personificação da sua própria criação. Deitando mão de um punhado de grandes jogadores e aproveitando os que já lá estavam, o técnico esteve perto de provar à saciedade que esta maneira de encarar o jogo podia sobreviver á sua origem e suplantar as fronteiras da sua Catalunha natal. É certo que o campeão alemão chega a provocar temor, tão depressa quanto se deixa enlear na letargia, que outras vezes, menos é certo, lhe provocam arrepios e problemas de identidade.
Dá ideia que faltará a este Bayern um pequeno pormenor
para ser sublime. Messi. Já agora também um central de inegável categoria. Se relativamente
a este ultimo tal dependerá da vontade, no que diz respeito ao primeiro a coisa
já depende de toda uma roda do tempo.
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