Para
cumprir as responsabilidades assumidas perante os seus credores, os principais
clubes portugueses têm de garantir receitas com transferências de jogadores,
bem acima dos €50M por época. O FC Porto na última década e o Benfica nos últimos
anos, tem sabido rentabilizar o forte investimento efectuado nos respectivos
plantéis, garantindo a venda dos seus activos por valores record.
Embora a
época ainda não esteja oficialmente encerrada, o êxodo anual já começou e a
procissão ainda está no adro, se bem que com a dilação cada vez maior dos
períodos de transferências, o andor nunca chegue verdadeiramente ao altar. “É a
economia global, estúpido!” O FC Porto foi o primeiro a prometer o dote de um
dos seus tesouros, numa fase ainda prematura das hostilidades, trocando por
miúdos (milhões) a declaração de amor do Real Madrid por Danilo. Para Jackson
estará á muito reservada a possibilidade de partida para destinos mais
promissores e Alex Sandro desperta a cobiça dos tubarões europeus o que pronuncia
dinheiro em caixa para os cofres do Dragão.
Também o
Benfica, em especial no consulado de Jorge Jesus, tem habituado a sua
tesouraria a jackpots regulares estando habituado a ver partir as estrelas mais
cintilantes do seu plantel. Com a oficina ainda aberta aguarda-se guia de
marcha para Cancelo e Gaitán, mas a feira ainda mal assentou arraiais e a
extracção do minério da Luz promete novos episódios nos próximos tempos.
Esta
tendência para os grandes negócios por parte dos dois protagonistas da nossa
Liga resulta do forte investimento levado a cabo por estes, em parceria com as
entidades bancárias e os chamados Fundos com os quais se tornou possível
adquirir futebolistas de potencial elevado, devidamente rentabilizados em
equipas competitivas, cujo retorno financeiro tem sido uma certeza por parte
dos verdadeiros donos do dinheiro.
Porém, a
crise do sistema bancário, aliada ao fim dos Fundos de Investimento decretada
recentemente pela FIFA, pronunciam ventos de mudança no que toca á principal
fonte de investimento dos clubes de segunda linha do futebol europeu, nos quais
se enquadram os “grandes” do futebol português.
Chegados ao
tempo das vacas magras, em breve se perceberá quem está mais preparado para se
adaptar às circunstâncias. Com a debandada dos seus activos mais lucrativos e
sem (tanto) dinheiro para vícios, a tendência será que as transferências
milionárias sejam cada vez mais raras, a não ser que Benfica e FC Porto
consigam descobrir novos Gaitáns, Danilos e Jacksons, a preço de custo nos
mercados já muito saturados da América do Sul e Central (difícil). Desta forma
não restará às respectivas S.A.D., outro caminho senão o de potenciar os
jogadores da formação, sabendo porem que, tal como na agricultura, existem colheitas
melhores do que outras com consequências nos lucros averbados.
O importante
será garantir o escoamento de “produtos” com certificados de qualidade. Neste
capítulo, diga-se, o Benfica tem sido exemplar; embora com méritos discutíveis
no horizonte do plantel principal; apontando o caminho a seguir, de forma a
rentabilizar os elevados investimentos efectuados nos seus centros de formação
e a garantir a própria sustentabilidade dos mesmos.
Quanto a
reforços e em tempo de vacas magras, o mercado interno parece ser uma tendência
natural. Quem não tem cão caça com gato por isso, de bolsos meio vazios (ou
meio cheios, para não ser tão pessimista) contratar intramuros garante apostas
de baixo risco em futebolistas plenamente adaptados ao nosso futebol e de
competência média interessante para satisfazer as novas exigências.
A tendência
da Liga portuguesa será, portanto, para ver diminuído o fosso entre ricos e
pobres por via de um abaixamento qualitativo dos seus protagonistas. O Sporting
á muito despertou para a realidade. FC Porto e Benfica só agora começam a abrir
os olhos. Bem-vindos ao Mundo real.
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