E a montanha pariu um rato,
ou melhor, dois.
Jesus percebeu cedo nesta
época que os milagres estão pela hora da morte, vai daí deixou de lado o toque
artístico para se dedicar à garimpa dos pontos, aproveitando as escorregadelas
iniciáticas do treinador basco, às voltas com uma súbita crise de novo-riquismo.
Em quatro jogos com os seus inimigos de estimação, os encarnados só por uma
vez, na Luz contra o Sporting, jogaram para ganhar. Já o FC Porto pouco tem a
acrescentar de palpável às suas intenções vitoriosas no que aos clássicos diz
respeito, evidenciando uma queda pouco usual para tropeçar, no confronto
directo com os maiores rivais e uma tendência até aqui desconhecida para se
agarrar a complexos de perseguição… verdes e muito gastos.
Do jogo do ano; para muitos
a final da Liga Portuguesa, muito se esperaria em termos de espectacularidade e
emoção, tanto havia para ganhar por cada uma das equipas em confronto. Pelo
lado do Benfica, o escancarar de portas da revalidação do título, enquanto pela
parte dos dragões, os três pontos serviriam para colocar pressão extra sobre
ombros alheios com a vantagem teórica que daí adviria no capítulo moral.
Vai daí, assim à laia de
ratinhos sem jeito para a temeridade, os dois treinadores, limitaram-se a
abocanhar a pobre fatia de queijo abandonada sob a mesa, desconfiando da
inebriante visão de uma roda de queijo, sob a linha do horizonte, muito para lá
da taprobana onde, diz-se, existem balizas com vista para o golo. Numa espécie
de pacto de não-agressão que faria corar de vergonha um qualquer Putin de
trazer por casa, “Jasus” e “Lotepegui” deitaram trancas à porta e dispuseram-se
a rechaçar qualquer intrépido forasteiro que ousasse irromper pelas suas linhas
defensivas.
Antes do jogo começar, todos
os sintomas apontavam para esse dislate, sobretudo da parte dos visitantes,
alterando o padrão habitual do seu jogo, baseado num 4:3:3 em detrimento de um
4:4:2 em losango, sem Quaresma e com Brahimi nas costas de Jackson Martinez e a
dupla Oliver/Evadro a movimentar-se como ala interior, à frente de um apagado
Ruben Neves. Só que este esquema implica grande envolvimento dos laterais, o
que neste jogo esteve longe de acontecer. Desta forma e sem profundidade, o
patrulhamento da faixa central do terreno tornou-se por si só de menos para a
suposta intensão atacante dos azuis e brancos.
Por seu lado os anfitriões, se
eram quem, no papel, mantinham o desenho do costume, com a alteração forçada de
Sálvio por Talisca, cedo demonstraram que não estavam ali para assumir qualquer
risco, trocando a nota artística por uma bateria de tocadores de adufe e
ferrinhos.
Uns e outros se foram
entretendo, aos atropelos e tropeções, por entre duelos individuais
inconsequentes, à procura de uma nesga de terreno que nunca se vislumbrou por
mais que, Oliver, de um lado e Jonas do outro procurassem fugir à mediocridade
reinante.
Quando na segunda parte,
Lopetegui de peito feito, ordenou a entrada de Quaresma e Hernâni, esperava-se
finalmente um FC Porto determinado em investir forte no assalto ao queijo mas
logo de seguida fez questão de meter gelo, substituindo o argelino por Herrera
assim á laia de um chove-não-molha, à rufia do espalhafato. Muita parra, pouca
uva.
Firme na sua pele de ratinho
medroso, Jorge Jesus não esteve para doirar a pílula e tratou de trocar Talisca
por Fejsa, para partir (mais) pedra no centro, onde nunca esteve a virtude,
juntando André Almeida à faixa lateral da defesa, adiantando Eliseu para ala,
não fosse o diabo tecê-las para os lados do amarelado açoriano.
O jogo foi passando, sem
água a correr debaixo da ponte, por entre bocejos e corridas de gato e do rato,
num meio campo inflacionado de reaccionários sem causa em que o povo era quem
menos ordenava. Que triste alegoria para um fim-de-semana de memórias revolucionárias.
Se fosse para isto, o melhor
teria sido anunciarem ao povo o acordo de cavalheiros. Armava-se a tenda da
bifana e do courato e convidavam-se uns artistas para animar a tarde. Ou então vinham de lá os técnicos com frases
tipo tais como, “Fomos a única equipa que quis ganhar o jogo” ou “Foi um grande
jogo, de uma intensidade pouco habitual na nossa Liga”. Pois, mas isso seria
ridículo demais.
Homem do Jogo: Jardel
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