Ridículo,
terá pensado Sir Alex Ferguson ao assistir à volta olímpica de Van Gaal, no
final da sua primeira época ao serviço do Manchester United. Satisfação pelo
“fantástico” 4º lugar alcançado, pura acção de propaganda ou simplesmente
sintoma de senilidade precoce?
O
que é certo é que o ex-seleccionador holandês não terá conseguido reprimir o
alívio por ter garantido o apuramento europeu após uma primeira volta
preocupante. Afinal, o que seria do Teatro dos Sonhos sem o regresso das suas
noites Europeias? O que seria de Van Gaal?
Na
verdade, não obstante o seu feitio truculento, a longa carreira treinador do
país das túlipas, suscitava a crença no renascimento do todo-poderoso clube do
Noroeste de Inglaterra aleado ao pormenor dos €200M investidos no reforço da
equipa. Com jogadores como Di Maria, Falcão, Blind e até mesmo Marcos Rojo
(!?), para além da base de luxo já existente, composta por Rooney, Van Persie,
De Gea, Mata, entre outros, não havia espaço para menos do que uma firme
candidatura ao título de campeão.
Cedo
os apaixonados discípulos de Sir Bobby Charlton viram goradas as expectativas
de uma época de sonho, fruto de um futebol titubeante e anémico. Van Gaal,
achou que a táctica se havia de sobrepor às vicissitudes do seu plantel e
procurou impor o sistema de três defesas, transplantado da Holanda do Brasil
2014. Nada mais errado pelo que se havia de assistir no decorrer da primeira
metade da temporada inglesa.
Sem
por em causa o sistema táctico de três defesas, não se entendem as adaptações
de jogadores a funções para as quais não estavam rotinados, dispondo o plantel
de elementos suficientes para o desenho holandês sem desvirtuar aquilo que
cada um tem de melhor. Blind a interior esquerdo ou Rooney a
médio de construção são exemplos do destrambelhamento do ex-seleccionador
laranja, que entretanto se permitiu a secar mais-valias da qualidade de um Di
Maria ou de um Falcão. Sendo certo que o avançado tem uma classe que lhe
permite adaptar-se a papéis para os quais não está formatado, é no mínimo
bizarro forçar a sua marcha atrás tendo em Mata jogador mais do que capacitado
para estabelecer pontes com a zona da coruja. Resultado, Van Persie, abandonado
à sua sorte na frente de ataque, trocando classe por suor, com reflexos no
aproveitamento sofrível. Ao mesmo tempo que se propunha à sua revolução
estratégica, Van Gaal, não conteve a sua sobranceria, expondo a sua manta de
retalhos aos adversários, fazendo avançar a equipa até às imediações da grande
área adversária sem a adequada correspondência com o equilíbrio posicional e a
atitude pressionante, fundamentais para garantir equilíbrios. Luxos…
É verdade que existem atenuantes
para a época sofrível dos diabos vermelhos como a onda de lesões que afrontou o
plantel durante grande parte da época, em especial na defesa e também na zona
central do meio campo mas encontrar justificações na figura abstracta do azar
poderá ser demasiado parecendo certo que a equipa técnica terá tido também
neste capítulo culpas no cartório ao não planear adequadamente a metodologia de
treino de forma a prevenir lesões. A mudança de rotinas não tem impacto apenas
ao nível das diferentes abordagens tácticas mas também na relação
físico-atlética do jogador. Ao descurar-se essa evidência fomenta-se o fenómeno
galopante deste tipo episódios. Não há coincidências.
Na segunda metade da época, com
o plantel mais composto, Van Gaal recuperou a compostura, devolveu as feras ao
seu habitat natural e o Man United fez-se renasceu para a vida, a pontos de
enxergar a cabeça do pelotão. Não obstante o sprint final, o tão ambicionado
título não passou de uma miragem para a equipa tendo de contentar-se com o
regresso às competições Europeias o que, bem vistas as coisas, depois de um
começo tenebroso como o aquele que experimentou, acaba por soar a um troféu
digno de uma volta olímpica.
Na próxima época, se o United
não regressar ao destino a que está obrigado pela sua História, o mais provável
é que Van Gaal regresse ao seu amado Algarve mais cedo do que terá idealizado.
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