O guarda-redes é uma espécie de empata-fodas. Como um preservativo incómodo numa qualquer relação sexual, é o primeiro culpado quando a coisa dá para o torto. Se a coisa corre bem, o melhor que lhe pode acontecer é ser arrumado no caixote do lixo da memória até à próxima refrega. Quem é que quer ir para a baliza quando pode sonhar com o ofício de ser Ronaldo ou de ser Messi? Falando de ofícios, o guarda-redes está para o futebol como o cidadão está para a sociedade: é o primeiro a pagar a crise.
Por estas e por outras é que nunca confiei em sujeitos de luvas garridas, a crescer para qualquer gajo que lhe apareça à frente. Lá vai o maluco. lá vai o demente, lá dizia o Variações e com razão. O guarda-redes é por natureza um homem temperamental e obstinado, capaz de tudo para defender as redes da sua barcaça, capaz de roubar a bola do jogo só para fazer pirraça. A soco ou a pontapé, não olha a meios para impedir o coito e o consequente orgasmo do ponta de lança. E se alguém lhe chama Roberto ou Labreca ele não chora, um homem não chora. A culpa não é sua. Se é guarda-redes é porque um dia, numa peladinha se ofereceu para ir à baliza só para não ficar de fora do maior espectáculo do Mundo.